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Compras Sustentáveis Corporativas: Como começar? (parte 2)


Dando continuidade ao artigo anterior sobre compras sustentáveis, onde tratei sobre o que são e quais os passos anteriores à sua implementação, neste artigo tratarei de quais aspectos são importantes para considerar no momento da execução do processo de compras.

Obviamente eles não se esgotam aqui, mas penso que estes 5 aspectos são essenciais. Vamos à eles:

1. Ao definir por qual fornecedor, é essencial ter em conta o seu comportamento ético, ou seja, como ele lida com questões relacionadas à responsabilidade socioambiental, condições de trabalho e respeito aos direitos humanos de seus funcionários e terceiros, práticas de combate à corrupção, segurança do produto e de suas equipes, como gerencia os riscos pertinentes à sua operação e como atua no caso de conflitos de interesses, para citar apenas alguns exemplos.

2. Outro ponto importante é não apenas considerar o custo final do produto ou serviço, mas os custos ao longo de todo o seu ciclo de vida como: preço de compra, custos de utilização, manutenção e eliminação. Parece óbvio, mas já vi muitas compras considerarem apenas o valor de, digamos uma descarga normal ao invés da dual flux por conta do seu preço final. Mas e a economia gerada pela redução na conta de água? Outro exemplo é a destinação final dos resíduos, muitas vezes o preço do produto pode ser baixo, mas pode ser significativamente mais caro quando considerada a sua destinação final se comparado à alternativas mais sustentáveis.

3. Sempre que possível priorizar compras locais e pequenos fornecedores. Isso não apenas acarreta em vantagens como ter alimentos mais frescos, reduzir os impactos de transporte e emissões de CO2, como também geração de riqueza e fortalecimento da economia local e, em casos específicos, redução da pressão migratória para os grandes centros.

4. Diversificação sempre. Sistemas diversos são mais resilientes, sejam ecossistemas, sistemas de mercado, ou equipes com diferentes experiências, pontos de vista e backgrounds. No caso dos fornecedores não é diferente. É claro que uma carteira com um grande número de fornecedores pode ser mais trabalhosa, mas o equilíbrio garante que você não ficará “na mão” daquele fornecedor single source que pode ter algum problema trabalhista ou em algum momento ir contra à uma determinada diretriz da sua organização.

5. Finalmente, mas não menos importante, é considerar aspectos socioambientais na tomada de decisão como checar minimamente o ciclo de vida do produto ou serviço, sua eficiência, se provém de fontes renováveis, priorizar aqueles que promovam o fechamento de ciclo (ou seja que o produto quando inutilizado possa se transformar em matéria-prima para a mesma ou outra organização), que gerem menos resíduos, menos emissões e menos impacto à saúde humana - por exemplo no caso dos produtos químicos - entre outros fatores possíveis de verificação.

Estes são alguns aspectos importantes. Como você pode perceber o caminho não é fácil, mas asseguro que é viável. Junto com as questões detalhadas no artigo anterior como o engajamento da liderança, o alinhamento com a materialidade e estratégia da organização, a parceria e diálogo efetivo com fornecedores, a capacitação dos compradores para incorporar a sustentabilidade na sua rotina, o processo de compras faz toda a diferença para quem quer fazer uma diferença efetiva no mundo. O business as usual não está dando conta do recado. Precisamos de novas formas de conviver e gerir nossos negócios.

Neste sentido, quando abordei estes aspectos em um workshop da Sustentáculos, uma compradora sênior pediu a palavra e disse que isso tudo é muito bonito, mas na prática as coisas são muito diferentes. Preço ainda é o diferencial entre um e outro fornecedor na maioria das organizações. Concordo com ela. No entanto, estas mesmas empresas não estão antenadas no que está acontecendo ao seu redor: gerações de consumidores cada vez mais exigentes em termos da conduta empresarial, escassez de recursos crescente ao redor de todo o globo, governos exigindo cada vez mais das empresas a redução de seus impactos negativos e a ampliação dos positivos. Uma nova era já está aí, batendo na nossa porta.

Em empresas que já tem este DNA de Sustentabilidade, onde sua marca e sua reputação estão totalmente ligadas ao tema, as compras sustentáveis são simplesmente mandatórias, não algo novo a ser incorporado na sua rotina. E estas empresas, meu amigo, logo logo serão maioria. Não porque são “boazinhas” ou apenas visionárias, mas porque o cenário que vivemos hoje exige isso.

Espero ter te ajudado de alguma forma. Como sempre, estou disponível ao diálogo e a troca de ideias, já que ninguém sabe mais do que nós todos juntos.

Grande abraço,

Juliana Zellauy Feres


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