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Compras Sustentáveis Corporativas: Como começar? (parte 1)

Primeiro, precisamos iniciar do básico: o que são Compras Sustentáveis Corporativas? São Compras que vão além dos aspectos clássicos da realização de compras institucionais, ou seja, além de itens como qualidade, preço, prazo e especificações técnicas, elas consideram aspectos sociombientais nas aquisições de bens, contratações de serviços e na execução de obras. Além disso, também asseguram que a cadeia de fornecimento tenha práticas éticas sólidas incluindo questões como condições de trabalho, gestão de riscos, e gestão de impactos socioambientais.

Mas como colocá-las em prática?

Na minha experiência com o trabalho de Sustentabilidade junto aos departamentos de Compras, de forma resumida, existem 6 aspectos essenciais para iniciar este processo e para que isto aconteça de forma bem sucedida, independentemente do tamanho da sua organização. São eles:

  1. O começo de tudo é determinante: ter o engajamento efetivo da liderança é essencial. Não apenas um apoio, mas que ela acredite realmente na iniciativa e a apoie inclusive considerando este item no planejamento estratégico da organização, refletido também em metas e objetivos específicos.

  2. Alinhamento com a sua materialidade, ou seja, antes de iniciar um processo de Compras Sustentáveis, levar em conta os temas que são prioritários para a organização (que são definidos junto às suas partes interessadas). Se sua empresa for pequena, pelo menos os donos, seus clientes e o seus fornecedores você deve ouvir para entender quais são os seus temas prioritários. É uma empresa agrícola? Água deve ser um tema essencial para a sua organização e deve estar refletido nas suas compras. É uma indústria química? Certamente o tema segurança (sua e de seus fornecedores) será prioritário e isso deve ser um ponto importante a ser observado na prática de seus parceiros. Definir e dar um peso para cada tema no momento da Compra facilita este processo. É claro que preço, prazo e qualidade deverão sempre ser levados em consideração, mas ao considerar também outros itens na equação como Ecoeficiência do produto/serviços, redução de CO2, gestão de resíduos, entre diversos outros possíveis, podem ser justamente os pontos que ajudarão a definir pela escolha por um ou outro fornecedor.

  3. Estabelecimento de uma parceria e diálogo efetivos junto aos seus fornecedores. Ou seja, não adianta dizer que pratica Compras Sustentáveis, mas no final aperta tanto o preço do seu fornecedor que chega a prejudicá-lo. Precisa ser uma relação ganha-ganha e não apenas “ganha o mais forte”. Práticas de ponta de grandes empresas ao redor do mundo muitas vezes também capacitam os seus fornecedores no tema Sustentabilidade, promovendo não apenas uma performance melhor dos seus serviços, como muitas vezes criando oportunidades de novos negócios. Pela Escola de Sustentabilidade da Dow, que coordenei, vi dezenas de pequenas e médias empresas criando e oferecendo novos produtos e serviços ao seu mercado, gerando rendas de até R$ 1 milhão de reais em poucos meses de trabalho duro e criativo.

  4. Em relação aos Compradores, eles precisam ter de forma muito clara as novas diretrizes da instituição para atuar de maneira alinhada e serem treinados para detectar as características de bens e serviços mais sustentáveis. Não é apenas saber que tal item consome menos água, mas ter uma visão mais abrangente de Sustentabilidade envolvendo deste o nascimento do produto/serviço até o seu descarte final, dando preferência àqueles que “fecham o ciclo”, ou seja que retornam, são reaproveitados ou reciclados pela mesma ou por outras organizações.

  5. Ao mesmo tempo os compradores deverão ser capacitados para que façam um acompanhamento do desempenho de cada fornecedor para avaliá-los e, se cabível, orientá-los em relação às suas práticas: seja em relação a gestão de riscos, condições de trabalho de seus funcionários ou à redução de impactos socioambientais, em alinhamento com as práticas da sua empresa. Ao mesmo tempo, deverão atuar, junto à outros departamentos, como Jurídico, Operação e Sustentabilidade, no caso de fornecedores que descumpram as boas práticas determinadas pela organização para avaliar juntos as ações pertinentes. Em casos extremos, recomendo que sempre antes de descredenciar um fornecedor, haja uma conversa entre as duas instituições. Isto demonstra respeito e tem um efeito educativo e de feedback que apontará claramente quais foram as falhas da empresa para que ela possa corrigi-los e não repita o erro, seja com a sua ou outra instituição.

  6. Ter um diálogo efetivo entre departamentos e iniciativas. Para dar um exemplo prático, já vi casos de grandes empresas que premiam ano-a-ano um fornecedor por suas boas práticas de sustentabilidade (iniciativas das áreas de Meio Ambiente ou Sustentabilidade, por exemplo), mas que no final das contas isso não faz diferença nenhuma na contratação do mesmo pelo setor de Compras. Mas não foi o próprio cliente quem disse que ele se destaca em suas práticas frente aos demais fornecedores? Pois então, diferenciá-lo de alguma forma no momento da compra de novos produtos ou serviços demonstra coerência e alinhamento com os valores que a própria organização promove.

No próximo artigo, a ser lançado na semana que vem, falarei um pouco mais sobre diversos aspectos que precisam ser considerados pelo departamento de Compras na hora de realizar uma Compra Sustentável, além de fornecer alguns materiais para quem quiser se aprofundar neste tema.

Caso queira saber mais especificamente sobre alguma questão ou elucidar algo, coloque aqui nos comentários a sua necessidade que procurarei atendê-la nos próximos artigos.

Até lá!

Abraço,

Juliana Zellauy Feres


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